Ronnie Lessa e Élcio Queiroz são condenados pelas mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes

Após mais de seis anos de investigação, o julgamento no Rio de Janeiro confirmou a culpa dos réus, que confessaram o crime e firmaram acordos de delação premiada

Por Redação com Informações de Folhapress 01/11/2024 - 07:45 hs
Foto: Divulgação


Na última quarta-feira (30), os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Queiroz foram condenados pelos assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, crimes ocorridos em março de 2018, no Rio de Janeiro. O veredito foi dado após um julgamento que durou dois dias no 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro. Iniciado na manhã de quarta-feira, o julgamento foi concluído por volta das 18h desta quinta-feira (31).

 

 

As penas dos condenados serão anunciadas em breve pela juíza Lúcia Glioche, que presidiu o julgamento. As penas estabelecidas pelo tribunal só serão aplicadas caso haja descumprimento dos acordos de delação premiada firmados por ambos os ex-policiais. O acordo de Ronnie Lessa, por exemplo, prevê o cumprimento de pena em regime fechado até março de 2037, com posterior progressão para regimes mais brandos. O acordo de Élcio Queiroz não foi divulgado publicamente.

 

Acordos de delação e possíveis consequências


O promotor Eduardo Martins sublinhou durante o julgamento que os acordos de delação são rigorosos e que, caso Lessa ou Queiroz falhem em cumprir suas obrigações, como em casos de nova infração ou omissão de informações, eles poderão cumprir integralmente as penas aplicadas no julgamento. "Se eles omitirem, mentirem ou cometerem qualquer infração, vão cumprir a pena inteira que os senhores [jurados] reconhecerem e a juíza fixar", explicou Martins.

 

Lessa e Queiroz participaram do julgamento por videoconferência. Ronnie Lessa está preso no Complexo Penitenciário de Tremembé, em São Paulo, enquanto Élcio Queiroz está detido na Papuda, no Distrito Federal. Ambos confessaram o crime, com Queiroz admitindo ter sido o motorista do carro que levou Lessa ao local onde ele disparou contra Marielle e Anderson. Lessa, por sua vez, revelou o envolvimento do deputado federal Chiquinho Brazão e do conselheiro do TCE-RJ Domingos Brazão como mandantes do crime.

 

 

O crime que chocou o Brasil


Os assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes ocorreram na noite de 14 de março de 2018, no bairro Estácio, no centro do Rio de Janeiro. O ataque aconteceu quando Marielle e Anderson voltavam de um evento com mulheres negras. Marielle estava no banco de trás do veículo, ao lado de sua assessora, que sobreviveu com ferimentos leves. O crime gerou comoção nacional e internacional, com manifestações exigindo justiça e a prisão dos culpados.

 

As investigações, inicialmente conduzidas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, enfrentaram dificuldades e foram criticadas por sua lentidão, especialmente durante o governo de Jair Bolsonaro. Em 2023, com a chegada do ministro da Justiça Flávio Dino no governo Lula, o caso ganhou novo fôlego, com a Polícia Federal ampliando a investigação e colaborando com as autoridades locais. Foi nesse contexto que Ronnie Lessa e Élcio Queiroz assinaram seus acordos de delação.

 

O papel dos mandantes e o desdobramento das investigações


Segundo as investigações da Polícia Federal, o assassinato de Marielle foi encomendado pelos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, que prometeram a Lessa e seu comparsa Edimilson de Oliveira (vulgo Macalé, morto em 2021) participação em negócios imobiliários ilegais na zona oeste do Rio de Janeiro. Também foi revelado que o ex-chefe da Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, participou do planejamento do crime, adicionando uma "exigência fundamental" para que a morte de Marielle não ocorresse logo após sua saída da Câmara Municipal, a fim de evitar a interpretação de um crime político.

 

 

Depoimentos emocionantes no julgamento


Durante o julgamento, depoimentos emocionantes foram ouvidos, incluindo o da ex-assessora de Marielle, Fernanda Chaves, que sobreviveu ao atentado. Ela descreveu os momentos de horror durante e após os disparos, afirmando que inicialmente acreditava que Marielle pudesse estar apenas desmaiada. "Meu corpo inteiro ardia. Queria acreditar que ela estava viva", contou Fernanda.

 

Também prestaram depoimento a mãe de Marielle, Marinete da Silva, e sua viúva, a vereadora Mônica Benício (PSOL). Marinete destacou a dor contínua de perder a filha de forma tão brutal, enquanto Mônica enfatizou o impacto que o assassinato de Marielle teve na política brasileira, afirmando que Marielle "estaria ocupando o lugar que quisesse ocupar" se ainda estivesse viva.

 

A viúva do motorista Anderson Gomes, Agatha Arnaus, também falou sobre a perda, lembrando o marido como alguém que "fazia qualquer dia horrível ficar melhor com gestos simples".

 

O caso Marielle Franco continua a ser um marco na luta por justiça no Brasil, e as condenações de Lessa e Queiroz representam um passo importante para responsabilizar os envolvidos nesse crime que comoveu o país e o mundo.